Nessa página de vidro pretendo simplesmente fazer caber a minha vida. Talvez falte, talvez sobre espaço, conforme o tamanho da vida em questão. É claro, estou chamando de vida o restrito departamento do trabalho. Mas a palavra cabe, se o trabalho tiver sido realizado com profundo amor. Chamamos um filho, algumas vezes, de minha vida. Talvez a produção artística tenha uma dimensão semelhante, por pobre que seja; a obra nasce de um estreito relacionamento com um Outro que reside dentro de nós, e é grande o esforço de gestação. Se o fruto não servir pra nada, a culpa não é dele, nem do autor, nem do Outro; foi com amor e esforço também que a natureza criou alguns homens, vermes e cascalhos, que deixariam perplexo quem buscasse neles um sentido de existência.

Dentre as qualidades dessa página de vidro, destaco sua transparência. A luz aqui pode entrar e sair, ser vista de frente – por mim – ou por trás – onde estão vocês. No salão informal desse espelho vazado, todos convivem de livre e espontânea vontade. Um trabalho apreciado com tal intimidade e por tantos lados se aproxima de sua razão de ser.

A página inicial não trará novidades da semana, como costuma acontecer nos verdadeiros blogs, mas conteúdos que semanalmente espero dispor em destaque, retirados dos livros e desenhos organizados no interior do blog. Poucos gostam de ler tantos contos ou poemas ou peças, ou ver tantas imagens; nessa página primeira, a maioria dos visitantes poderá ter um panorama do meu trabalho – e logo desistir, se for o caso. Portanto, somente nas páginas internas se encontrará a totalidade daquilo que quero expor.

De resto, o blog se explica por si mesmo. Vocês encontrarão nesses primeiros meses setores incompletos, por conta da cansativa revisão de todo o material, da produção das fotos de esculturas e baixo-relevos e pelas próprias dificuldades técnicas dessa mídia, tão comum às pessoas, mas estranha a mim.


29.4.11

O Terral


Acaba o sexo, o futebol
o trabalho que mata o tempo
as coisas que seguem sendo
o sol, o café, o cão, o jornal...

Aí vem um terral...

E me envolve numa cesta
como mãe do meu destino
e me solta nas correntezas
de um velho rio absorvido.


Grafite (32x24 cm)

22.4.11

Mãe



Andando em rua movimentada e ruidosa, recebo uma chamada confusa no celular – eu também estou em meus dias de perturbação. Uma voz distante mas familiar anuncia de maneira truncada algo como mamãe morreu... e eu digo o quê?, mas a ligação esvai-se e logo retorna com um choro ao fundo, eu desesperado grito o quê, como?, até distinguir com clareza: no cemitério da Consolação.
Agoniado, não consigo discar os números dos irmãos nem o da minha mãe. Penso nos trotes que vêm acontecendo com frequência na cidade – agora me parece evidente: a chamada foi propositadamente obscura. Num instante, toco a campainha de sua casa para constatar, depois de um mísero tempo infinito, que ela abre a porta, em carne e osso.
Choro copiosamente, abraço forte aquela estranha senhora, sentindo seu corpo como nunca em meus braços. Ela então recua admirada, ou melhor, embaraçada com meu jeito descabido. Foi um trote, parecia a voz da minha irmã dizendo que a senhora tinha morrido... Ela balança a cabeça em solidariedade a meu transtorno e diz entre, vamos tomar um café.
Na cozinha, ainda sobressaltado, passo a falar e a reparar que falo desordenadamente, enquanto ela, de costas para mim, alcança os apetrechos do café.
– Estranho, mãe, o susto, isto da morte vir de repente, graças a Deus não foi nada, mesmo com a sua idade não é fácil receber uma notícia assim...
– Já passou.
– Ficou uma sensação, se tivesse sido... sinto que me faltaria alguma coisa, assim de repente, poderia ter sido, e se fosse, se eu não pudesse mais falar com a senhora... É essa a sensação... agora é como se a gente tivesse uma chance, é por isso que eu preciso falar, falar de coisas que estão guardadas toda a vida, aproveitar que não aconteceu, que senão eu nunca mais... falaria...
Não sei ao certo o que tanto necessito expressar, menos ainda como começar. Sinto aquela velha pressão sobre meu corpo, que me curva e oprime num sono profundo do qual desperto assustado para me certificar de que ela ainda está ali. Continua ali como sempre esteve, altiva, elegante, apenas um pouco pálida, e eu sei por quê: fica assim quando se contraria. E a causa sou eu que mais uma vez a aborreço, o que também não é novidade, faz parte da nossa história, esse é o seu filho e ela o conhece bem – aquele que tem por hábito carregar um lastro nas costas. A luz de sessenta watts nessa cozinha acanhada cria um espaço demasiado íntimo para a formalidade da nossa relação, o que me envergonha como se eu estivesse profanando algo. Qualquer coisa incestuosa. Ela percebe algo similar, por isso também se incomoda diante do meu descontrole afetivo. Mas estou decidido a falar, ainda há pouco quase perco a oportunidade, eu tenho uma represa a ponto de transbordar no meu coração. Seria melhor se estivéssemos na sala. Retomo a tentativa de um discurso.
– A gente nunca conversou, é isso. Não é possível que somente depois de um episódio como esse eu tenha coragem de tentar alguma coisa, das tantas que eu trago aqui dentro. Olhe pra mim, me ajude a falar. Não sei bem o quê. Mas a senhora sabe. Eu sou fechado, a senhora também – apesar de conversar mais facilmente com meus irmãos –, a gente tem que tentar, pelo menos dessa vez.
Enfim ela levanta o rosto e diz com a costumeira firmeza:
– O que eu fiz de errado?
– Não, nada, não é por aí. A senhora sempre cuidou muito bem de todos nós, nesse sentido foi exemplar. Nunca houve nada, nada, que tenha maculado seu esforço de manter a casa em ordem. O zelo com nossos uniformes, as refeições na hora certa, o acompanhamento das lições, a educação religiosa, os conselhos, não houve nada de errado. Não é isso. É um vazio, uma coisa que faltou e que até hoje permanece, a senhora sabe, gostaria que me dissesse. Sempre nos tratamos como meros conhecidos, até minha mulher tem mais liberdade contigo, eu não, eu não sei como.
Ela havia me oferecido de início um café, pareceu-me tê-la visto fazendo café, mas acaba por me servir um chá mate e se mantém em pé, recostada na pia, esperando o tempo passar. Nesse momento percebo que menti quanto a ignorar o que desejava dizer. Mas é só parar de falar e me abate aquele sono, viajo longe, esquecendo-me de onde e com quem estou; contudo, uma vontade decidida resgata-me das catacumbas e me traz de volta para encarar mais uma vez o corpo dessa mulher apoiado na pia.
– Mãe, carinho. É isso. A falta é essa. Tato. Não agora, entenda, já não dá mais – me faria mal. Não estou pedindo carinho, estamos conversando. Também envelheci – hoje em dia seria ridículo. Mas antes, seu jeito frio de me tocar o mínimo, somente o necessário pra fechar os botões, ou de pentear meus cabelos só com uma mão, a que segurava o pente, somente o pente. Esse abraço de hoje, espontâneo, foi a primeira vez que senti seu corpo, mas quase que não, pois era um abraço desesperado, mas no meio pude perceber também que nos encostávamos. Vou lhe contar: quando era moleque eu me achava fedido, e não adiantava tomar banho, parecia que minha mãe tinha nojo. Do R. a senhora não tinha, não sei, eu te via às vezes dando uns beijinhos nele, e das meninas também não, até tomavam banho juntas... De mim a senhora tinha nojo.
– Não fale bobagem. Nunca fiz diferença entre você e o R. Com as meninas sim, mas simplesmente por serem moças. Eu eduquei vocês da forma com que fui educada. Você pensa que minha mãe tocava em mim? Que meu pai era carinhoso? Antigamente não era assim, e ninguém tinha problemas. Agora me diga: por que os outros filhos não se queixam?
Enquanto ouço essas considerações já esperadas – mas nunca claramente ditas nessa sequência objetiva –, eu me encolho e quero fugir. Por que fui começar tudo isso? E agora, como acaba? De fato, a questão não é nojo, isso eu sentia na infância – não sei como pude me desviar tanto a ponto de deixar emergir memórias tão longínquas... Tem a coisa inata; eu também nunca soube receber carinho, sei disso pelo quanto me incomodam certas aproximações da minha esposa. Mas o que é causa e consequência? Quero ir embora, sumir. Ela havia deixado a pergunta no ar.
– Cada um... cada um... Não sei. Será que tudo foi igual? Eu sou igual ao R.? Desse jeito é como se eu tivesse cobrando a senhora, não é isso – de que adianta? Não tem conserto, talvez também não haja nada errado, e a vida seja assim, e eu sou assim. Mas mãe é uma, filho só tem uma chance. Destino é uma mãe e um pai, ou só um, ou nenhum deles. Se hoje eu a tivesse perdido, perderia duas coisas: minha mãe propriamente e a possibilidade de um dia falar com a senhora. No fundo, confesso, parece haver em mim uma inocente esperança... Pode ser que eu sonhe com uma remota proximidade... Então é por isso que estou falando essas coisas.
– Pode falar o que quiser, você sabe que só está me machucando. O que eu posso fazer? Na minha idade, não existe transformação. Conversa nenhuma muda oitenta e oito anos. De qualquer forma eu entendo e me entristeço pela sua dor, apesar de não me sentir culpada, apenas desapontada e incapaz diante do impasse. Você não vai atender?
É o celular que toca. Ignoro. Algo de bom acontece, pois agora a pressão se ameniza. Suas palavras duras me ajudam, porque entendo profundamente o quanto a rígida clareza de seu discurso, que por toda a vida admirei, esconde seu medo por qualquer amor. Isto me chega não como uma novidade em si – o desvelo é mais espacial: eu e ela ali, constrangidos naquela cozinha estreita, aí sim; um ser inteiro em seu vazio diante de um totem que não pode ser minimamente diferente do que é.
– Você não pega hoje seu neto na escola? São seis horas...
– Estou indo. Mesmo assim, mãe, foi muito bom ter falado, com certeza para mim.
– Você diz essas coisas, mas é o mais distante dos filhos...
Chego à porta da escola repleta de jovens pais, o celular toca insistentemente. É minha irmã, e a ligação é nítida. Ela chora, reclama e chora, sem saber por que razão eu não comparecia ao velório.


Pastel e lápis de cor (15,5x19,5 cm)

19.4.11

14.4.11

Guache (22x16 cm)

12.4.11

Tabela Periódica



(Recordo ter estudado no meu colegial a origem da Tabela Periódica, em que seu criador Mendeleiev, ao classificar todos os elementos naturais de acordo com suas propriedades físicas, acreditou ter encontrado uma ordem tão perfeita, que reservou em sua diagramação espaços vazios destinados a elementos que ainda seriam – ele tinha certeza—descobertos.
Com o passar dos anos, esses elementos – denominados antecipadamente, se não me engano, de gases nobres – foram de fato encontrados e continham exatamente aquelas propriedades físicas por ele previstas.)


Terror de catacumbas; é de madrugada
sem ancestrais por perto
e no meio da sala
ergue-se a ruína de uma escada
real e imaginada.

Tudo acabou, mesmo assim
tudo está no lugar
porque Deus está no fim
e agora a escada
é uma Tabela Periódica.

O que vejo e o porvir
formam uma só imagem
e não me assustam mais;
os degraus que faltam
já têm seu lugar.

O vazio é tão nítido
que pressinto pelo avesso
a matéria sem vida
-- que será animada
quando então reconhecida.



Xilogravura (20x11 cm)

2.4.11

Premonição



“Quando saíres da Pão & Cia num dia chuvoso, e ouvires D. Ivone Lara cantando “Sonho Meu”, passará rente a ti uma falsa loira: siga-a” – foi a frase taxativa que em mim ecoou ao fim de um sonho confuso. Naquele dia, tive receio de almoçar na padaria, porém o hábito se impôs; e nenhuma moça passou, nenhuma música tocou e o sol batia a pino. A enigmática mensagem permaneceu viva no decorrer da semana, a ponto de me fazer trocar o local da refeição num dia de garoa contínua. Mas por que havia de temer? O sonho era certamente a fantasia da minha esperança de encontrar alguém por acaso e, se fosse premonitório, pra que fugir? Um mês bastou para eu esquecer a questão.

Abri meu guarda-chuva e saí da padaria debaixo de um chuvisco, quando o som de um carro que manobrava em frente tocava “Sonho Meu”, na interpretação da autora, e, no mesmo instante em que sentia um calafrio, uma loira quase me atropela, estabanada com a sua sombrinha. Minha hesitação foi o suficiente para ela se adiantar trinta metros. Comecei a perseguição. Três quarteirões acima, a moça entrou numa rua sem movimento. Mal havia reparado em seu rosto. O coração batia, as pernas bambeavam, mas não podia deixar de obedecer a um destino tão contundente. Ela olhou para trás e acelerou o passo. Nova esquina, novo olhar – que a fez atravessar apressadamente a rua. Eu a perseguia sem escrúpulos, minha convicção vinha das esferas do além. Apenas obedecia.

Entrou correndo num sobradinho, toquei em seguida a campainha. Pelo que pude observar à distância, não era a mulher que eu desejava: baixinha, peituda, e aqueles cabelos tingidos, nada fazia meu tipo, e ainda vestia jeans, o que pra mim é traje de vaqueira. Morava sozinha, decerto, ou quem sabe com a mãe. Imaginei uma mãe cega, não sei por quê, dependente de sua única filha que se sacrificaria para... Mas quem abriu a porta violentamente foi um brutamontes meio alemão, que partiu pra cima de mim inquirindo-me ou ofendendo-me – eu nada entendia; minhas pernas arriaram de vez, a voz saía fraquinha e oscilante: “desculpe, é que tive um sonho que me dizia para seguir... a loira que passasse pela padaria... se chovesse... ao som da canção...”. Não completei. Foi uma porrada na cara sem condescendência e vários chutes no meu corpo estirado na calçada. Mais tarde, alguém me ergueu e me levou para uma varanda, onde recebi os primeiros socorros.

Não assimilei o que havia se passado; levei uma surra, dias de recuperação, dívidas pelo tratamento dentário – e um aparelho na boca até hoje. Não sei que relação tracei entre Deus e sonhos, que passei a ter raiva do primeiro. Então, quando a vida aos poucos se reconstruía, a moça entrou na padaria. Num surto de raiva, parti em sua direção e ela, assustada, espremeu-se entre as cadeiras da mesa. Antes que berrasse, perguntei diretamente: “por que fez isso comigo?”, e ela, ato contínuo, “por que me persegue?”. Minha cara deve ter revelado a ela meu bom coração, pois aos poucos nos acalmamos e eu pude explicar-lhe a história do sonho e a sua estúpida consequência. Ao fim, estávamos acomodados frente a frente.

– Talvez teu sonho tivesse o sentido de me ajudar. Depois daquele dia, consegui me separar. Não que eu achasse errado ele ter te expulsado, mas não daquele jeito. Era muito violento. Batia em todo o mundo, um bruto, inclusive abusava da minha boa vontade.

Enquanto falava, eu reconsiderava a impressão inicial de seus traços. Agora achava-a graciosa, com um jeito alegre e a voz cheia de sensualidade. O sonho estaria ainda valendo?

– Tudo bem, mas eu não posso ter servido apenas como instrumento de transformação da sua...

– Por que não? A vida de todos nós está tão entrelaçada... existe um inconsciente coletivo...

Era inteligente. O sonho estava vivo.

– ...e você me ajudou a encontrar o cara certo, um cara que tem a medida...

Já tinha outro namorado. Via-me novamente às voltas com o mistério: o que essa mulher tem a ver comigo?

Combinamos almoçar ali mesmo no dia seguinte, e assim por diante, três a quatro vezes por semana ¬– éramos agora íntimos. Precisava ter paciência, seu caso recente era passageiro e ela demonstrava evidente afeição por mim. Aos poucos, não escondíamos nada mais um do outro (exceto, de minha parte, a intensidade quase incontrolável da paixão) e foi assim que fiquei ciente de que o namorado ciumento andava desconfiando dos almoços reiterados na padaria, enquanto ele pegava no trabalho. Um dia ela não apareceu, em seu lugar um cara cresceu na minha frente sem fazer qualquer cerimônia; primeiro, um murro me lançou estatelado no chão, em seguida recebi o impacto da minha própria cadeira cativa, cadeira esta de tubo e chapa, que me rasgou a barriga e, enfim, ainda tive o braço quebrado, dentre outros estragos não maiores porque o demônio foi contido pelos clientes e servidores amigos. O estúpido foi pra delegacia assinar papéis, eu para o hospital. Lá, recebi a visita da moça. Disse-me que não tinha palavras para se desculpar, que preferia consolar-me com suas recentes decisões, quais eram: já havia se separado e que, se eu ainda a quisesse, estaria me esperando, que agora via o quanto me amava e desejava morar comigo...

O sonho ressuscitava das cinzas. Só não me alertara quanto ao custo do destino.

Nosso primeiro sexo justificou as duas surras. O segundo e o terceiro ainda empolgaram. Ela trouxe algumas mudas de roupa para minha casa, porém não se entregava plenamente. Eu queria mais, bem mais. Ela dizia “devagar”, e no quarto sexo já parecia distante. Presenteei-a com um anel de algum valor que a deixou encantada, e então me ofereceu o quinto com grande fervor. Este foi o último: o quinto. Eu estava por cima, tomado, na minha, quando ela, suada, de olhos fechadinhos, cheia de tesão, pediu-me para bater. “O quê?” “Me bate, bate!”. “Não”, gaguejei. “Me bate, porra!” “Não... não gosto disso, tá louca...” Ela rugia, uma fera, eu dentro dela parei, ela se debatia, me aplicava uns tapas e repetia compulsiva “me bate, me bate, merda!” Como eu paralisara, empurrou-me, pulou da cama, pôs a roupa, catou as coisas e foi embora.


O absurdo, acredite quem quiser, ainda estava por acontecer, semanas depois, quando me refazia das grosserias do destino. Eu não entendo de probabilidade. Não sei calcular a chance de tocar na minha padaria, num dia chuvoso, uma canção que não foi propriamente um sucesso nem em sua época, e ainda na voz de D. Ivone Lara, e passar uma loira falsa na minha frente – tudo como foi predito. Contudo, ocorrer o mesmo acaso premonitório duas vezes, me parece mais impossível que sortear a mesma estrela no firmamento. Pois então vocês imaginam o que vou contar. Desta vez ouvi “Sonho Meu” na televisão da padaria. Sorri. Chovia, como era de se esperar. Armei o guarda-chuva para sair, certo que uma loira passaria. Passou. Uma diferença: esta sorriu ligeiramente pra mim. E seguiu com passos lentos pela calçada, como se me esperasse – eu a acompanhei com os olhos. Adiante, espiou atrás, pra mim. Não sei qual a probabilidade desse fenômeno duplo, mas, sem pestanejar, parti sozinho em direção contrária.




Bico de pena e grafite (24x31,5 cm)