Nessa página de vidro pretendo simplesmente fazer caber a minha vida. Talvez falte, talvez sobre espaço, conforme o tamanho da vida em questão. É claro, estou chamando de vida o restrito departamento do trabalho. Mas a palavra cabe, se o trabalho tiver sido realizado com profundo amor. Chamamos um filho, algumas vezes, de minha vida. Talvez a produção artística tenha uma dimensão semelhante, por pobre que seja; a obra nasce de um estreito relacionamento com um Outro que reside dentro de nós, e é grande o esforço de gestação. Se o fruto não servir pra nada, a culpa não é dele, nem do autor, nem do Outro; foi com amor e esforço também que a natureza criou alguns homens, vermes e cascalhos, que deixariam perplexo quem buscasse neles um sentido de existência.
Dentre as qualidades dessa página de vidro, destaco sua transparência. A luz aqui pode entrar e sair, ser vista de frente – por mim – ou por trás – onde estão vocês. No salão informal desse espelho vazado, todos convivem de livre e espontânea vontade. Um trabalho apreciado com tal intimidade e por tantos lados se aproxima de sua razão de ser.
De resto, o blog se explica por si mesmo. Vocês encontrarão nesses primeiros meses setores incompletos, por conta da cansativa revisão de todo o material, da produção das fotos de esculturas e baixo-relevos e pelas próprias dificuldades técnicas dessa mídia, tão comum às pessoas, mas estranha a mim.
20.6.11
Deus não olha espelho
não vê graça no perfeito
belo, eterno, pleno e calma
não está nem aí pra alma
Deus ama o corpo nojento.
Põe sua mensagem num odre
que o corpo carrega dentro
para ser sorvida gole a gole
a cada gole um segredo
para o destino dos homens.
O corpo é seu passatempo
o corpo é seu descontrole
o corpo é seu corpo pobre
com um odre abastecendo
todo desvio do fundamento.
O povo se debate nos obstáculos
e diz que tudo é acaso ou sorte
Ele logo ajusta o oráculo
e renova o néctar dos odres
–acha a vida um espetáculo.
Um comentário:
Adoro esta foto. Cada vez, uma viagem.
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