Pausa de Eamon Grennan
O estranho e contido silêncio da vizinhança
pouco antes do ônibus escolar trazer as crianças da vizinhança
para casa no meio da tarde fria: um momento de simples
espera, antecipação, antes da eclosão de alguma coisa,
quando tudo parece justo, parece justificado, à
espreita, prestes a acontecer, e na tua mente vês
luzes cintilantes que piscam, de âmbar a escarlate, e tua filha
de jaqueta azul e chapéu safira com franjas brancas
descendo com cuidado, voltando ao nosso mundo, correndo
pelo silêncio e a relva gelada enquanto a porta do ônibus fecha suspirando
e a porta da frente da casa se escancara e ela te encontra
ali, pai-à-espera, o silêncio em pedaços
e a rotina restaurada assim que te curvas para tocá-la,
para apanhar seu chapéu e casaco do chão
onde ela os largou, ouvir sua voz viva ocupando
cada fresta. Na pausa, antes que tudo isso aconteça, percebes
alguma coisa sobre a forma da vida que escolheste viver,
entre o silêncio de possibilidade quase infinita e aquela
explosão das coisas como elas são – as vastas, incontestáveis
intromissões de amor e desastre, ou apenas as roupas
de inverno de tua filha casualmente espalhadas no chão da entrada.
(Tradução de Maria Lúcia Milléo Martins)
Nenhum comentário:
Postar um comentário