Nessa página de vidro pretendo simplesmente fazer caber a minha vida. Talvez falte, talvez sobre espaço, conforme o tamanho da vida em questão. É claro, estou chamando de vida o restrito departamento do trabalho. Mas a palavra cabe, se o trabalho tiver sido realizado com profundo amor. Chamamos um filho, algumas vezes, de minha vida. Talvez a produção artística tenha uma dimensão semelhante, por pobre que seja; a obra nasce de um estreito relacionamento com um Outro que reside dentro de nós, e é grande o esforço de gestação. Se o fruto não servir pra nada, a culpa não é dele, nem do autor, nem do Outro; foi com amor e esforço também que a natureza criou alguns homens, vermes e cascalhos, que deixariam perplexo quem buscasse neles um sentido de existência.

Dentre as qualidades dessa página de vidro, destaco sua transparência. A luz aqui pode entrar e sair, ser vista de frente – por mim – ou por trás – onde estão vocês. No salão informal desse espelho vazado, todos convivem de livre e espontânea vontade. Um trabalho apreciado com tal intimidade e por tantos lados se aproxima de sua razão de ser.

A página inicial não trará novidades da semana, como costuma acontecer nos verdadeiros blogs, mas conteúdos que semanalmente espero dispor em destaque, retirados dos livros e desenhos organizados no interior do blog. Poucos gostam de ler tantos contos ou poemas ou peças, ou ver tantas imagens; nessa página primeira, a maioria dos visitantes poderá ter um panorama do meu trabalho – e logo desistir, se for o caso. Portanto, somente nas páginas internas se encontrará a totalidade daquilo que quero expor.

De resto, o blog se explica por si mesmo. Vocês encontrarão nesses primeiros meses setores incompletos, por conta da cansativa revisão de todo o material, da produção das fotos de esculturas e baixo-relevos e pelas próprias dificuldades técnicas dessa mídia, tão comum às pessoas, mas estranha a mim.


10.5.11

Fábulas de La Tatite



Contam que lá pelos idos dos anos 2000, numa zona rural do interior do Brasil, havia um moleque nojento e pamonha, que era mantido na fazenda somente por ser filho de caseiros bastante estimados pelo patrão. Mas se via que, desde cedo, o garoto não prestava, fazendo seus pais perderem a cabeça sem conseguir endireitá-lo nem um tico.
O moleque inicialmente era dado a comer as galinhas – comer no sentido de foder –, depois passou a molestar os cães, progrediu com grande prazer para ovelhas até se apaixonar por uma mula com a qual deveria ter parado sua evolução.
Acontece que o desejo nunca tem fim, e naqueles dias ele refletia consigo – se é que um energúmeno daqueles refletisse algo: se as cadelas eram melhores que as galinhas, as ovelhas que as cadelas, e minha querida mula melhor do que tudo, como seria catar logo a filha do patrão, aquela potranca gostosa...
Zapt-zupt, na primeira oportunidade, lá foi ele estuprar a filha do patrão, moça de dezenove anos que, de fato, era muito bela e apetitosa. Empunhando um enorme facão, surpreendeu a dita cuja dentro da própria casa. O garoto, sempre com aquele sorriso débil na boca sem dentes, ordenou-lhe que tirasse a roupa. Em seguida, completou: queria ver se uma fêmea é realmente melhor que sua mula. A menina não era boba, sabia que o crápula não tinha o menor juízo e mantinha a calma enquanto buscava uma solução.
Então ela falou: “Geginaldo, tudo isso é muito triste pra mim, mas não posso fazer nada. Já que vou ser estuprada, o melhor é relaxar e dar a você o que você quer, e tentar também tirar algum proveito disso. Você é um rapaz bonito, por isso quero fazer com você aquilo que eu faço com meus namorados”. “E o que é, dona Rosita?”. “Vou passar um creminho da hora na xoxota pra você me chupar todinha.” “E é bom, Dona Rosita?” “É o que há de melhor. Você não entende de mulher, eu vou ensiná-lo.”
Tirando a roupa, pegou o tal creminho e deitou na cama com as pernas escancaradas. O jegue nunca havia tido uma visão mais maravilhosa na vida, mas ainda assim se conteve para acabar de ouvir a instrução da sua professora. “Olhe, Geginaldo, eu vou passar o creminho gosmento e geladinho, mas você tem de lamber tudo e engolir fundo no ato, senão jamais sentirá o verdadeiro gosto do prazer”.
E assim fez, tão logo viu o moleque ajoelhado em suas pernas, pronto para atacar. Acontece que o creminho era uma cola conhecida na época como Super-Bonder, dessas que tudo cola instantaneamente. Ela despejou todo o tubo ali, no tufo de pelos, e mal sentia a goma escorrer já o linguarudo mamou aquilo de vez. E engoliu. Só teve tempo de ponderar: “não gostei, dona Rosita”.
E tudo nele grudou: lábios, língua, goela, o danado ficou num desespero tal que nem podia agir contra a menina que já havia pulado da cama e corrido, pedindo socorro. Quando os primeiros lá chegaram, encontraram o corpo do moleque bronco mortinho da silva.

Assim é a vida, meus filhos, é preciso ter limites. Quem não tem cão casa com gato ou galinha, mas não com animal mais distinto.



Bico de pena, guache e pastel (20x24,5 cm)

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