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Bico de pena (36x29,5 cm) |
Nessa página de vidro pretendo simplesmente fazer caber a minha vida. Talvez falte, talvez sobre espaço, conforme o tamanho da vida em questão. É claro, estou chamando de vida o restrito departamento do trabalho. Mas a palavra cabe, se o trabalho tiver sido realizado com profundo amor. Chamamos um filho, algumas vezes, de minha vida. Talvez a produção artística tenha uma dimensão semelhante, por pobre que seja; a obra nasce de um estreito relacionamento com um Outro que reside dentro de nós, e é grande o esforço de gestação. Se o fruto não servir pra nada, a culpa não é dele, nem do autor, nem do Outro; foi com amor e esforço também que a natureza criou alguns homens, vermes e cascalhos, que deixariam perplexo quem buscasse neles um sentido de existência.
Dentre as qualidades dessa página de vidro, destaco sua transparência. A luz aqui pode entrar e sair, ser vista de frente – por mim – ou por trás – onde estão vocês. No salão informal desse espelho vazado, todos convivem de livre e espontânea vontade. Um trabalho apreciado com tal intimidade e por tantos lados se aproxima de sua razão de ser.
De resto, o blog se explica por si mesmo. Vocês encontrarão nesses primeiros meses setores incompletos, por conta da cansativa revisão de todo o material, da produção das fotos de esculturas e baixo-relevos e pelas próprias dificuldades técnicas dessa mídia, tão comum às pessoas, mas estranha a mim.
31.1.12
26.1.12
24.1.12
20.1.12
16.1.12
12.1.12
8.1.12
Lugares vazios são cheios de folhas
pedras, pó e vento
mas aqui não existe nem o tempo
só um camelo pasta areia
na beira de um rio absorvido.
Um ponto se aproxima:
o camelo com um feto em cima.
O que me comove ao vê-lo dentro
são seus olhos de astronauta
perdidos numa órbita sem volta.
Vem de longe
(e eu, venho de onde?)
para conhecer no fim
o começo do verbo
ou, ao inverso
encontrar no início
o fim do universo.
Parafina (alt: 29cm) |