Nessa página de vidro pretendo simplesmente fazer caber a minha vida. Talvez falte, talvez sobre espaço, conforme o tamanho da vida em questão. É claro, estou chamando de vida o restrito departamento do trabalho. Mas a palavra cabe, se o trabalho tiver sido realizado com profundo amor. Chamamos um filho, algumas vezes, de minha vida. Talvez a produção artística tenha uma dimensão semelhante, por pobre que seja; a obra nasce de um estreito relacionamento com um Outro que reside dentro de nós, e é grande o esforço de gestação. Se o fruto não servir pra nada, a culpa não é dele, nem do autor, nem do Outro; foi com amor e esforço também que a natureza criou alguns homens, vermes e cascalhos, que deixariam perplexo quem buscasse neles um sentido de existência.

Dentre as qualidades dessa página de vidro, destaco sua transparência. A luz aqui pode entrar e sair, ser vista de frente – por mim – ou por trás – onde estão vocês. No salão informal desse espelho vazado, todos convivem de livre e espontânea vontade. Um trabalho apreciado com tal intimidade e por tantos lados se aproxima de sua razão de ser.

A página inicial não trará novidades da semana, como costuma acontecer nos verdadeiros blogs, mas conteúdos que semanalmente espero dispor em destaque, retirados dos livros e desenhos organizados no interior do blog. Poucos gostam de ler tantos contos ou poemas ou peças, ou ver tantas imagens; nessa página primeira, a maioria dos visitantes poderá ter um panorama do meu trabalho – e logo desistir, se for o caso. Portanto, somente nas páginas internas se encontrará a totalidade daquilo que quero expor.

De resto, o blog se explica por si mesmo. Vocês encontrarão nesses primeiros meses setores incompletos, por conta da cansativa revisão de todo o material, da produção das fotos de esculturas e baixo-relevos e pelas próprias dificuldades técnicas dessa mídia, tão comum às pessoas, mas estranha a mim.


8.12.12


Minha Flor       (revisitada)

 

Um milagre vegetal
Que nada deve à ressurreição;
Uma flor, flor mesmo
Símbolo do efêmero
E da beleza fugas
Essa flor não morre, aliás
Morre, mas renasce sempre
Em qualquer época do ano
Num ciclo atemporal.
 
Achei o vaso no quintal
Com duas folhas velhas
E um brotinho de nada
Quando a levei pra sala.
Desde então floresce
E não morre, aliás
Morre e logo renasce
Mais branca, mais lilás
Essa flor paranormal.
 
Apesar da metáfora banal
Não posso deixar de relacionar
Minha flor com minha dor
Pois não me teria sido dada
À toa; eu também não morro
Aliás, morro, morro sempre
Mas renasço, e ao renascer
Alquebrado, lá está minha flor
Misteriosamente fatal. 
 
 
 
 

Um comentário:

bia reinach disse...

Que lindo esse poema Zé. Você já viu o vídeo dos pássaros do paraiso. Siga o link, é simplesmente maravilhoso, esses pássaros delicados como flores...
http://www.youtube.com/watch?v=YTR21os8gTA
Mas veja mesmo, acho que vai gostar.