Nessa página de vidro pretendo simplesmente fazer caber a minha vida. Talvez falte, talvez sobre espaço, conforme o tamanho da vida em questão. É claro, estou chamando de vida o restrito departamento do trabalho. Mas a palavra cabe, se o trabalho tiver sido realizado com profundo amor. Chamamos um filho, algumas vezes, de minha vida. Talvez a produção artística tenha uma dimensão semelhante, por pobre que seja; a obra nasce de um estreito relacionamento com um Outro que reside dentro de nós, e é grande o esforço de gestação. Se o fruto não servir pra nada, a culpa não é dele, nem do autor, nem do Outro; foi com amor e esforço também que a natureza criou alguns homens, vermes e cascalhos, que deixariam perplexo quem buscasse neles um sentido de existência.

Dentre as qualidades dessa página de vidro, destaco sua transparência. A luz aqui pode entrar e sair, ser vista de frente – por mim – ou por trás – onde estão vocês. No salão informal desse espelho vazado, todos convivem de livre e espontânea vontade. Um trabalho apreciado com tal intimidade e por tantos lados se aproxima de sua razão de ser.

A página inicial não trará novidades da semana, como costuma acontecer nos verdadeiros blogs, mas conteúdos que semanalmente espero dispor em destaque, retirados dos livros e desenhos organizados no interior do blog. Poucos gostam de ler tantos contos ou poemas ou peças, ou ver tantas imagens; nessa página primeira, a maioria dos visitantes poderá ter um panorama do meu trabalho – e logo desistir, se for o caso. Portanto, somente nas páginas internas se encontrará a totalidade daquilo que quero expor.

De resto, o blog se explica por si mesmo. Vocês encontrarão nesses primeiros meses setores incompletos, por conta da cansativa revisão de todo o material, da produção das fotos de esculturas e baixo-relevos e pelas próprias dificuldades técnicas dessa mídia, tão comum às pessoas, mas estranha a mim.


20.11.12

12.11.12


Minha Avó
 
 
Quero minha avó Nharinha
Eu chegava em Itapetininga
Ela está fazendo rosquinhas.
 
Saudade da rosquinha quente
Com café claro, no banco da cozinha
Conversando sobre as galinhas.
 
Conta que a próxima é aquela
Sabe como quebrar a goela
Ninguém fazia melhor ensopado.
 
Pena que ficará cega
Trocou a TV pelo rádio
Sempre atenta ao noticiário.
 
Se sabe que o tempo evapora
O carrilhão batendo as horas
Nós dois fomos embora.
 
 
 
Parafina
 

 

11.11.12

Guache (29,5x21 cm)

10.11.12

Guache (22x16 cm)

9.11.12

Guache (22x16 cm)

8.11.12

Guache (22x16 cm)

7.11.12

Guache (22x16 cm)

6.11.12

Guache (22x16 cm)

5.11.12

Guache (16x22 cm)

27.10.12


Poema d’água
 
 
 
Sinhá dorme no meu colo
Lucinha me chama de alegria
eu ando tão perturbado
que não reparo a garoa
companheira tão antiga.
 
Dói em mim o óbvio limite
de que não posso escrever à toa
que não basta a idéia solta
um poema precisa de ordem
o verso é avesso à desordem.

Dói em mim a consciência
de que a poesia não passa
de uma taça cheia de água
que só serve pra servir
à sede dos deuses.
 
Uma esfinge mesquinha
resguarda a bendita água
no poço de um oásis
onde tantos mergulham
de cabeça na areia.
 
A água que eu retiro
parece aquela que jorra
nos sonhos: a gente bebe
bebe, bebe e desperta aflito
morrendo de sede.
  
 
 

23.10.12

Bico de pena e lápis de cor (35x25 cm)